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REPROGRAMAÇÃO

A professora da FAU USP, Giselle Beiguelman, é autora de diversos textos e livros sendo referência quando o assunto se trata de arte, cidades e cultura digital. Para ela, a questão central atualmente não é mais como dar acesso à tecnologia como foi nos anos 1990, mas sim em como potencializar o uso crítico e criativo da tecnologia para além de seu fomento ao consumo.

“Movimentos sociais não são, entretanto, meros conjuntos de indivíduos. São grupos que atuam no espaço público; e, como mostrou Castells, esse espaço público, hoje, na sociedade em rede, é o das redes de comunicação. Nessa perspectiva, ‘a mudança cultural demanda a reprogramação das redes de comunicação’ (Castells, 2009, p.302) a partir da contestação das imagens que projetam no espaço público.” [1] 

Assim como o professor brasileiro, Arlindo Machado, defende no seu livro “Artemídia”, Beiguelman também acredita que o artista deve levar seu trabalho ao “esgotamento do programa”, buscando interferir na própria lógica das máquinas e dos processos tecnológicos. A partir desse “esgotamento”, eles deixariam de ser meros funcionários de seus equipamentos programados a partir dos objetivos da produtividade da sociedade tecnológica. Eles desprogramariam a técnica, distorceriam suas funções simbólicas e as obrigaria a funcionar fora de seus parâmetros conhecidos.

 

O fato de determinadas formas artísticas serem criadas no interior desses regimes de produção restritivos e automatizados, utilizando suportes e softwares desenvolvidos para a indústria do entretenimento de massa, não significa que elas sustentam e promovem essas estruturas e poderes. Sua atuação seria o que Arlindo Machado chama de um “ataque por dentro” e uma “contaminação interna” pois suas obras estariam sendo produzidas nos modelos econômicos vigentes, entretanto, na direção contrária deles. Consequentemente, faria dessa obra um instrumento crítico poderoso que poderia gerar alternativas aos modelos atuais de normatização e controle da sociedade.

Krzysztof Wodiczko, artista polonês que trabalha sobre esses parâmetros, é trazido como exemplo por Giselle Beiguelman: O que suas obras tem em comum é que, a partir de uma problematização crítica e criativa dos dispositivos midiáticos associados à mobilidade como fenômeno social, econômico e cultural, ele cria produtos e tecnologia para necessidades que não deveriam existir, concebidos especificamente com o propósito de permitir que as vozes das pessoas sejam escutadas e, assim, surjam no espaço público.

Outro artista citado por Beiguelman é o espanhol Antoni Abad, com seu trabalho “megafone.net”: “convida grupos de pessoas em risco de exclusão social a expressar suas experiências em reuniões presenciais e através do celular fazendo registro de sons e imagens, publicando-as na web, transformando os telefones em megafones digitais que amplificam a voz de pessoas e minorias ignoradas pelos meios de comunicação predominantes. As redes sociais deixam de servir ao marketing pessoal para serem plataformas de ação e gerenciamento de mudanças culturais.” [1]

Isto posto, concordo com o professor Arlindo Machado de que o artista, quando não capaz de desenvolver seu próprio equipamento ou de desprogramá-lo, fica reduzido a opções de suportes existentes e a suas possibilidades já conhecidas, podendo cair em uma homogeneidade e previsibilidade dos resultados. Atualmente a análise desses trabalhos deveria indagar se a tecnologia está introduzindo diferenças qualitativas para a obra, buscando novas políticas do corpo e novas expressões de identidades culturais.

“Do espaço isotópico da figuração clássica, baseado na continuidade e na homogeneidade dos elementos representados, passamos agora ao espaço politópico, em que os elementos constitutivos do quadro migram de diferentes contextos espaciais e temporais e se encaixam, se encavalam, se sobrepõem uns sobre os outros em configurações híbridas.” [2] 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. BEIGUELMAN, Giselle; LA FERLA, Jorge. Nomadismos tecnológicos. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011.

  2. MACHADO, Arlindo. Artemída. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

  3. BEIGUELMAN, Giselle. Da cidade interativa às memórias corrompidas: arte, design e patrimônio histórico na cultura urbana contemporânea. 2016. Tese (Livre Docência em Linguagem e Poéticas Visuais) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

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Trabalho de Conclusão de Curso

DAU PUC-Rio

2021.2

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Autoria:

Gabriella Nucara Lourenço de Mello

 

Orientação:

Otavio Leonidio

Contato:

nucara.arq@gmail.com

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